APICULTURA


A ATIVIDADE DO SÉCULO XXI

Madrugada de Agosto. Pouco mais de 5:00 horas de manhã.
Muito cedo, ainda, para muitos de nós sairmos da cama para o trabalho. Porém, dentro de todas as colméias, a ansiedade e movimentação à espera do primeiro raio de sol é grande. Foram pouco mais de 10 horas de descanso pra as abelhas desde o dia anterior. Agora é o inicio de mais um dia em busca do precioso néctar.
Surge o sol e, com ele, milhões de abelhas saem a caça das flores que fornecerão a ínfima quantidade de 0,01g de néctar. Depois de visitar mais ou menos 1.000 flores, com o papo já abarrotado de néctar e as patas pesadas pelas bolotas de pólen, a incansável abelha retorna a colméia onde é recebida com jubilo pelas companheiras, que farão o resto do trabalho: a transformação do néctar em mel, e do pólen em alimento protéico para os filhotes. 40 dias depois, ou um pouco mais, no fim da florada, a colméia terá acrescentado quase 25Kg ou mais de mel na sua despensa após visitar mais de 20 milhões de flores.
Para as abelhas, nenhuma novidade. Há mais de 100 milhões de anos elas cumprem esse trabalho, visitar as flores e retornar a colméia, exceto quando chove ou a noite, quando se recolhem.
No campo, nas praças públicas e jardins esvoaçam entre as flores das plantações ou da vegetação natural, produzindo os ingredientes que garantem a continuidade das espécies vegetais, os mesmo que os homens consomem como alimento e até como remédio, o mel, o própolis, o pólen, a geléia real, a cera e o veneno.

Nesse vaivém entre flores, desempenham outra importante função, que os cientistas denominam polinização cruzada, processo pelo qual o pólen de uma flor é levado à outra da mesma espécie garantindo a multiplicação, o vigor, a fertilidade e a variabilidade genética de inúmeras espécies vegetais, com óbvios reflexos nas cadeias alimentares. Foram necessários milhões de anos para que a natureza desenvolvesse os sistemas que permitissem às flores atrair abelhas e assim possibilitar que elas levassem o pólen de uma flor para a outra. Estima-se que, sozinhas, as abelhas consigam perpetuar 80% das espécies vegetais de todo o planeta. Sem a polinização cruzada, os vegetais ficariam sem genes diferenciados, com a conseqüente degeneração da espécie e a perda da capacidade reprodutiva. A produção de frutos e outros alimentos seria bem menor.
Estima-se ainda que a instalação de colméias garante um aumento de até 35% na produção de laranjas, 45% na de algodão, 9% na de milho, 80% na de soja e a incrível cifra de 800% na de abacate. E não para por aí. 95% das maçãs produzidas no Brasil são oriundas da polinização cruzada promovida pelas abelhas.

Outra grande vantagem da apicultura, entre as atividades agropecuárias, é a de possuir a menor taxa de investimento, menor mão de obra e retorno de investimento dos mais rápidos de todo o setor agropecuário brasileiro. Enquanto nas bovinoculturas de corte e leite, suinocultura, avicultura, piscicultura, os gastos iniciais são muito elevados, a apicultura exigem um investimento inicial para 5 colméias na casa dos R$ 1.200,00 (preços de Mar/2006), com retorno deste dinheiro na primeira colheita em forma de mel e própolis. A área para instalação de um apiário de 30 colméias não chega a um lote de 360 metros quadrados, geralmente terrenos impróprios para outras culturas, mas aproveitáveis para apicultura. A título de comparação, a manutenção de uma única cabeça de vaca requer a disponibilidade de, pelo menos, 5.000 metros quadrados de terreno sujeitos ao desmatamento, à prática da monocultura, além do pisoteamento da área utilizada pelo gado. O gasto com alimentação em apicultura é mínimo, pois as próprias abelhas se encarregam de colher seu alimento para manutenção, além do excedente para o apicultor. Nos suínos, por exemplo, o gasto com alimentação diária durante 6 meses seguidos giram entre 3 e 5 Kg de ração por dia. Por fim, as abelhas possuem a grande vantagem de serem resistentes a doenças das mais variadas espécies, dispensando uso de medicamentos e antibióticos. Em outras culturas o uso de vacinas, antibióticos e defensivos agropecuários se tornam quase obrigatórios.
Outro fator que pesa a favor da apicultura é a procura pelo produto, muito maior que a oferta de produção. Somente o mercado interno possui um potencial de consumo na casa das 100.000 toneladas de mel por ano, mais do que o dobro da atual produção brasileira, em torno de 40.000 toneladas em 2005.
Dessa maneira a apicultura inicia o século XXI como uma das atividades mais promissoras, ecologicamente correta e capaz de satisfazer as necessidades mais elementares do ser humano: VIDA, SAÚDE e BELEZA.

Qualquer pessoa pode criar abelhas. Porém, são necessárias duas coisas imprescindíveis para quem quer vencer na atividade, seja ela amadora ou profissional.
As ferroadas fazem parte do trabalho. Principalmente no início da atividade, em que o corpo ainda não se adaptou a elas, qualquer ferroada é motivo de inflamação local. O grande problema reside nas pessoas que são alérgicas, pois, 1, 2, 3 ferroadas podem ser fatais para o alérgico. Dessa maneira, se você nunca teve essa experiência, ou, tem mais de 2 anos que não toma ferroadas de abelhas, deve, antes de iniciar a atividade, procurar um profissional médico para determinar se a alergia existe ou não através de chamado Teste de Elisa. Nunca auto aplique-se a ferroada, pois as conseqüências, em caso de alergia, vão desde a paralisia das pernas e braços até a morte.
Só faça esse teste na presença de um médico competente.

Outro grande fator necessário e importante é gostar do que faz. Amar as abelhas. Quem iniciar a atividade, preocupado se as adversidades são pesadas ou não, já fracassou antes de começar ou mesmo aquele que só se preocupa com lucros rápidos e imediatos também já fracassou.
Trabalhar com abelha é pesado, difícil, desgastante, não tem sábados, domingos ou feriados, porém, é fascinante, diferente, prazeroso, laborioso, saudável, fantástico. Um experiente apicultor da cidade de Rio Acima em Minas Gerais nos disse uma vez:
“- Abelha não é para quem quer, é para quem gosta.”

Fonte:


Luiz Ernesto Monfrinato, 30 anos de amor e dedicação a apicultura!


Apiário Monfrinato

Apiário Monfrinato


Apiário Monfrinato
Foto da Abelha Rainha (ela é maior e mais escura do que as operárias)